Minha casa - Contos da vida real

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Minha casa

Contos
Messias em 1926

MINHA CASA

     Eu me chamo Waldemar Medeiros. Nasci em 02 de fevereiro de 1924 e, portanto, tenho 77 anos. Aos três anos de idade, minha mãe separou-se do meu pai e fomos morar num lugarejo de nome Alto Cafezal – SP, longe de minha terra uns 500 km. Em 1920 trocaram o nome da nossa cidade por Marília - SP.
    Nesta última, morávamos na rua 9 de Julho, num casarão todo de madeira. Na época não havia fábrica de tijolos na vila e tudo era feito de madeira. A entrada principal da casa era feita com cinco portas dando acesso a um salão, onde minha mãe trabalhava como costureira, a única do lugarejo. Como tinha muito serviço, adquiriu mais máquinas de costura e mais pessoas como costureiras. Trabalhava-se do dia todo. Muito serviço!
   No restante da residência, tínhamos três quartos, sala de jantar, cozinha e um grande quintal. Marília não dispunha de esgoto e nem água encanada. Tomávamos banho numa bacia grande. No lado de fora da casa, tirávamos água de poço e, distante do mesmo, um quartinho para nossas necessidades fisiológicas que chamávamos de privada, hoje, banheiro.
   Um belo dia chega defronte nossa casa, um mendigo barbudo, muito sujo e maltrapilho. Carregava no ombro um macaquinho. Uma das costureiras chamou atenção da minha mãe dizendo que o homem quer esmola. Ela, ao olhar, levou um susto e falou: "É o meu ex-marido"! Eu brincava no chão com retalhos e carretel de linha. Ao ouvir minha mãe, pensei logo: É o meu pai. Levantou-se e foi até a porta e perguntou: "Messias, você tem coragem de aparecer aqui neste estado?" Ele, doente, tremendo de febre, respondeu: "Você sabe que quem deve tem que pagar". Mandou-o entrar e foi preciso de duas bacias dágua para o banho do pseudo mendigo. Ganhei, de presente, o macaquinho que acabei de criar com mamadeira. Dentro de três meses meu pai ficou ótimo. Já esperava uma mala cheia de roupas novas e dinheiro para voltar a seu destino, norte do Paraná. Durante a estada foi tratado como hóspede. Meu único irmão foi chorando levar o papai à estação ferroviária. Despediu-se de mim com um forte abraço e lágrimas nos olhos. E eu fiquei feliz com o macaquinho, mas minha mãe, sempre ávida por dinheiro, aceitou, por uma boa proposta de um médico, a venda do meu amigo. Chorei, mas não adiantou nada, o dinheiro sempre foi mais forte que qualquer emoção. Poucas semanas depois, soube da notícia. O animal deixou de alimentar-se e morreu de paixão. Ainda bem que estou vivo até hoje.

waldemar


 
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