Conto de outra - Contos da vida real

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Conto de Rosângela Scheithauer


Antes de mais nada, gostaria de explicar-lhes que a semana passada recebi um prospecto de uma escola profissionalizante oferecendo "Curso de  computação para o dia-a-dia". Seria de três dias e, de acordo com o prospecto,  ofereceria condições de "perder o medo" do computador. Pensei: "tá aí um curso pra mim"! É claro que já tenho uma boa base, mas decidi experimentar na  esperança de aprender algo novo.

Qual não foi minha surpresa e estupefação ao chegar na sala de aula e deparar com pelo menos dez participantes nas idades variando entre 70 a 90 anos! Fiquei sem saber como agir, fico ou vou embora? Será que estou no curso certo? Que fazer?

Já que estava lá, decidi ficar e ver o que iria aprender junto aos meus "colegas".   O senhor sentado ao meu lado tinha um aparelho no ouvido e não entendia as  instruções do professor quando solicitava que ligássemos o computador. Eu,  com muita pena do pobre senhor, dirigia-me a ele e o ajudava todas as vezes que notava sua dificuldade. À minha frente sentava-se uma senhora com uma bengala, à esquerda um velhinho todo vestido de terno e gravata, uma gracinha, porém com alguma deficiência na vista pois usava óculos que mais lembravam fundo de garrafa.

O professor era um jovem elétrico de uns 25 anos, falava rápido e nunca  perguntava se alguém na sala não havia entendido alguma coisa. Claro, com certeza ele sabia qual seria a resposta se perguntasse. Os velhinhos estavam "perdidinhos" em meio à tanta explicação sobre "bits, mega bytes, kiloytes, CPU`s, RAM, FDD, HDD, CD-Rom, Desktop, Modem, ASCI, Word, Excel,  Microsoft e outros afins. Para terem uma idéia, meu colega à esquerda não sabia o que era um "Mouse" e achava estarmos referindo ao bichinho.

Nos intervalos tínhamos certas tarefas, sendo que eu era a única a executá-los e depois passava o tempo todo indo de mesa em mesa ajudando meus coleguinhas. Se me considero fraca conhecedora da complexidade de computadores, imaginem eles!

Na verdade fiquei encantada com a motivação dos velhinhos e espero poder ter a mesma energia quando atingir a idade deles. Porque nao aprender? Uma coisa é certa: o computador é um "bicho de sete cabeças", mas é uma questão de treinamento, quanto mais com ele se trabalha, mais se aprende.

Fiquei amiga de todos meus companheiros e acreditem ou não fui elogiada pela paciência com que lhes ensinei o pouco que sabia.  Hoje, após a última aula, três colegas me perguntaram se eu estaria disposta a
lhes ajudar com algumas aulas extras. Imaginem! Eu? Fui lá querendo aprender e saí "professora".

Amanhã tem aula aqui em casa... vou explicar como se faz para enviar e-mails.  Nisso eu sou perita!            Ah! outra coisinha: nunca me sentí tão jovem!

Rosângela Scheithauer
                     prrscheith@netway.at

www.armazem.literario.com.br

 
 
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